sexta-feira, 2 de abril de 2010

As Crónicas de Roberdões da Pichota: Zé, o traficante de carneiros

Era um dia morno de Primavera.

As plantas cantavam, o sol sorria e o Zé estava a violar os seus carneiros. Aparentemente pareciam prontos para o novo carregamento, mas Zé sabia que algo não estava bem, Zé dava voltas e mais voltas analisando a situação, se mandasse estes carneiros no novo carregamento o nome "Zé" poderia ficar manchado para sempre, a sua reputação como traficante de carneiros acabaria. As exigências do Enteado eram bem claras: os carneiros deviam ser novos de cor clara e pêlo fofinho.Zé, sabia disto e sabia que não se podia dar ao luxo de desafiar O Enteado, Zé esforçava-se para não pensar nas consequências. Havia sabido que um dia o Asdrúbal tinha desobedecido ao Enteado e este num ápice lhe cortou o acesso de água aos campos, todos os tomates secaram.Zé, num acto de desespero, pediu um encontro com O Enteado, encontrou-o manjando um cozido à portuguesa guardado por dois trogloditas. Zé, após ser dada licença para entrar lançou o assunto:

-Receio que os carneiros não estejam nas melhores condições.
-Como assim?
-Creio que o pêlo esteja um pouco espesso.

O Enteado deu uma pausa ao cozido e olhou directamente para Zé, que tremia:

-E que tenho eu a ver com isso? Eu quero os carneiros em condições até ao Domingo, antes da missa.
-Receio não ser possível.
-Eu quero os carneiros! Até Domingo, Sr Zé.

Zé foi escoltado até à saída, não sabia o que fazer. Apenas restava uma solução, era uma saída fácil e já feita demasiadas vezes, mas não havia escolha.

Zé decidiu emigrar para a França. O primo Armindo estava lá fazia uns anos, e falava maravilhas, em Agosto vinha sempre montado num BMW novinho e falava da mansão que tinha em Paris. Contactou Armindo, que não se importou de o acolher.

Fez as malas, bateu na mulher até ficar inconsciente e arrastou-a e aos filhos até ao comboio para Paris (porque o avião é para finos armados em ricos), esperando uma nova vida, melhor se possível.


Continua