sábado, 18 de julho de 2009

Confusão com o Ribeiro

Tenho de desabafar com vocês, internautas, este meu problema pessoal, esta zaragata que se passou.

Certo dia fui passear com uma minha Maria pelos arredores da aldeia, levámos um cesto com umas sandes de presunto e torresmos, um garrafão de vinho e fizemos um pique nique. No entanto, ser um habitante de Roberdões da Pichota é sinónimo de compromisso eterno com os nossos terrenos agrícolas, cautela e olho vivo constantemente, não vão os garotos dos vizinhos roubar-me fruta.
O espaço de tempo que ocupou o meu passeiozinho foi o suficiente para originar uma zaragata e um confronto de contornos épicos.
Quando voltei os terrenos estavam secos e sem água, dei à bomba, mas nada.
O meu cérebro começou a processar uma quantidade de dados e hipóteses, tentando descobrir o responsável para o desaparecimento da água. Podia ser o aquecimento global, mas o mais provável era ser o "FILHO DA PUTA DO RIBEIRO" - gritei.
E não é que o sacana me desviou a água do terreno? Quer deixar os tomates a secar o sacana! Ora bem se ele me quer lixar os tomates, ora vou rebentar com os tomates dele.Amor com amor se paga.
Fui pegar na espingarda do meu bisavô que participou na Primeira Guerra Mundial para dar umas lições ao Ribeiro.
Quando vi o filho da puta ao longe premi o gatilho da espingarda pela primeira vez desde 1918, a bala voou muito perto do focinho do ribeiro, ainda tentei enfiar-lhe outra bala, mas a velha espingarda não deixou, pode ter aniquilado um exército de alemães em 1918, mas em 2009 não consegue arrancar arrancar um braço a um campóino de Roberdões da Pichota.
Larguei a dita arma e corri atrás do cabrão. Muito correu ele até subir ao telhado da tasca e ficar preso lá em cima. Adivinhava-se um confronto épico.
Não foram precisas palavras, ele sabia qual a minha missão ali.
atirei-lhe um punho à sua focinheira, falhei, ele agarrou-me e começou aos murros, libertei-me com um pontapé no seu abono de família, enquanto gemia no chão disse-lhe:
"Foste tu, não foste caralho?"
"Foi sem querer, o Benfica é o melhor, não me batas!"
"Tou a falar da água que me desvias-te do terreno, foda-se!"
"Ah, eu meto no sítio, pronto, não é preciso agredires os meus tomates"
"Eu até te arruinava a plantação de tomates, mas optei por acertar contas contigo, meu cabrão"
"Estou a falar dos MEUS tomates"
"Ah, bom, mete-me lá a água no sitio e não botas pé no meu terreno mais, tá certo?"
"Foda-se, tábem"

E assim consegui resolver um conflito com o meu estilo e carisma inegável.
All Heil Casemiro! Caralho!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Mais cenas sobre mim

Hoje, nesta bela tarde com um solinho aqui nas minhas trombas vou falar da minha posição religiosa e política.

Como todas as pessoas da aldeia não falto a uma missa, no entanto, não interpretem mal, eu não sou muito apegado a estas coisas da Igreja, acho que Jesus foi um gajo porreiro e morreu pelos nossos pecados e pregou o amor... e é isso. Apenas vou à Igreja para evitar comentários. Roberdões da Pichota tem uma grande tradição religiosa e toda a gente vai ouvir o amor que Cristo tem para dar, a bem ou a mal.
A semana passada, o Zé da tasca disse que não queria estar mais ligado a estas coisas da religião e que não ia botar mais pé na Igreja.
Ele foi alvo de comentários, e já havia gente a dizer que tinha feito um pacto com o Diabo. Ele disse que agora é ateu, eu perguntei que merda é essa e ele disse que é não acreditar em nada e eu fiquei esclarecido. Eu não me importo, problema dele, a Gertrudes é que logo saltou com uma cruz na mão e berrou "Resiste-lhe Zé, resiste-lhe! Eu vou chamar o padre para te tirar o demónio!", o Zé, já ligeiramente chateado, argumentou que uma opção religiosa diferente não significa que seja automaticamente adorador do Diabo e ainda disse "O Diabo é uma concepção Cristã, sob a minha perspectiva ele nem sequer existe". Gertrudes aos saltos foi logo chamar o padre da aldeia.
O rapaz logo veio, temendo algo grave, após Gertrudes o informar da situação ele, com grande calma disse: "É apenas uma opção diferente, devemos respeita-la, tal como Jesus respeitou os outros"- Gertrudes estava confusa - "Nestes meios pequenos não se nota mas noutros meios maiores já se encontra uma grande percentagem de gente não católica, talvez, mesmo superior à percentagem de católicos, o que lhe parece?".
Gertrudes não perdeu tempo, pegou na Bíblia e desfolhou o dito livro até às páginas finais, "A mim padre, parece-me que o fim está próximo!".
O jovem sacerdote desistiu de combater o fanatismo da pobre Gertrudes e eu, simplesmente, ignorei a cena. É por estas coisas que eu viu à missa todos os Domingos.

Politicamente não tenho muito a dizer, para mim, todos os sistemas são bons seja de direita de esquerda do centro da frente ou de trás. Desde que seja eu o manda-chuva do governo tudo serve.

Até à próxima internautas.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

As Internetes

Perguntam vocês, caros leitores, como um homem como eu chegou ao mundo dos Bill Gates e das maçãs.
Ora certo dia o Silva viu na televisão que muitas aldeias já tinham o seu saite na Internet, assim os turistas podiam ver informações sobre a aldeia e achar o nosso cantinho mais facilmente. O Ribeiro ficou todo contente, pois já podíamos andar à porrada com malta fresca que não está tão rija como o pessoal de Roberdões da Pichota, vendo o povo todo excitado com a possibilidade de dar umas broas sem grandes consequências imediatas o Silva logo entrou em cena: "Os turistas não são para andar à porrada, é para visitarem a aldeia e gastarem cá dinheiro", ora sem porrada ninguém via o beneficio de trazer cá turistas.
De qualquer maneira eu fiquei encarregado de por o dito site no ar já que era a única pessoa num raio de vários quilómetros que sabia sintonizar uma televisão e mexer num microondas.
Os meus filhos ajudaram-me a entrar neste grande mundo que e a internet.
Após algum treino consegui dominar o editor de saites.
Resolvi, então, construir o site da aldeia. Pensei:
"Este saite tem de atrair as atenções... Já sei, vou por umas moças nuas! Aqui uma enxada, umas couves, vinho tinto, uma foto do Ribeiro e um jogo para dar tiros no presidente da câmara."
No fim ficou algo como:
"Venham a Roberdões da Pichota para ver moças nuas, enxadas, couves, beber até cair, estar com gente simpática como o Ribeiro (pena faltar dentes ao rapaz) e dar tiros no presidente da câmara.
O resultado foi desastroso, fui obrigado a tirar o saite do ar e resolvi fazer um blog.
Até à próxima leitores.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O verão e os turístas

Estava no outro dia sentado na sombrinha bonita que tenho ao pé de casa quando para um carro ao pé de mim, "Foda-se!", pensei, o raio da carripana devia ser caríssima. De lá dentro saiu uma jovem bastante desenvergonhada, nunca deixaria uma filha minha vestir-se assim. Não sei qual a piada de agora as jovens andarem todas de mini saia e biquíni, o que sobra para ver depois do casamento?
A jovem dirigiu-se a mim e perguntou:
-Excuse me, can you tell me how is this village called?

O meu rosto brilhou, adoro exibir o meu Inglês:

-Of course caralho! We are in...

Parei, pensei que ela não iria perceber o nome da aldeia, Roberdões da Pichota.

-...Roberdões of the dick.

A cara da jovem mudou de tom, parecia chateada:
-This is some kind of joke?
- No foda-se! We are in Roberdões of the dick.

Comecei a lembrar-me da vila mais próxima, Vila Nova da Puta Morta:
-If you take that road you'll reach New Town of the Dead Whore
A Inglesa, francesa, ou o caralho expludiu:

-Excuse me, but i don't have time for jokes.

E abalou.

Tudo isto para chegar à seguinte conclusão:
Meus amigos, os turistas são doidos, se algum os abordar simplesmente lancem um "Fuck you", vão poupar muita saliva com esses armados em finos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Boas tardes internautas

Quando nasci minha mãe gritou bem alto "CASEMIRO!", meu pai pensou que o grito seria a afirmação do nome do seu novo filho, estava-se no entanto a referir ao nome do médico cá da aldeia. O que é certo é que o nome ficou. Quando me foi registar, informou o homem encarregado da tarefa de registar as novas crianças que me queria como"Casemiro Nogueira Inácio", o pobre desgraçado estava, no entanto, aquela hora já estava com a sua dezena de copos de uma variedade de bebidas alcoólicas no sangue, registou-me então como "Casemiro Caganeira do Falácio".
O factor humorístico do meu nome deu muitos maus momentos na minha infância. Uma vez, quando a minha professora da 1ª classe me perguntou o nome, eu respondi:
-Casemiro
-E quais são os teus outros nomes? - perguntou a professora.
- Caganeira do Falácio - respondi, inocentemente, com um sorriso na cara.

As consequências foram desastrosas, fui repreendido, passei todo o intervalo voltado para a parede, apenas depois de a professora dizer aos meus pais que eu era um grande malcriado, de levar uma sova tanto desta como dos meus pais e de saber de cor o número de rachas na parede a maldita mulher se lembrou de verificar o meu nome.

Vivo na minha aldeia desde o meu nascimento, Roberdões da Pichota estará sempre no meu coração .Muitos dizem que somos antiquados e rudes, mas isso são os meninos da cidade sempre com inveja do nosso ambiente pacato.

A minha ocupação é a agricultura, tenho tomates, batatas e muitas árvores de fruto. Se o leitor quiser umas maçãs ou uns courgettes que vá com a sua viatura a Roberdões da Pichota e sai de lá com uma fruta mesmo boa. As minhas maçãs são mesmo doces e não têm nada daquelas porcarias para as pôr maiores.

O Asdrúbal e o Aleixo são os meus companheiros de sempre, todos os sábados juntamos-nos no café do Zé para beber umas cervejas, um vinho tinto, jogar matrecos e ver a bola.

Sou casado e tenho filhos, os dois sacanas estão a estudar na cidade, com a mania das grandezas, estão a gastar todo o dinheiro da família para um dia serem uns "senhores doutores", eu perguntei ao mais velho se isso era realmente necessário e se não bastava ficarem a trabalhar na aldeia como todos os homens honestos, ao que ele me respondeu:
- Eu tenho maiores ambições, a aldeia está morta. Não quero um trabalho pesado e mal pago como toda a gente por aqui.
-Quer andar de camisa limpa não é? Não queres fazer nada na vida.

Comecei a fazer uma representação do que seria a vida do meu filho:

-Olha para mim, estou limpinho, não faço nada e roubo quando posso atrás de uma secretária.

Olhei para o meu filho e disse:

- Tu vais mas é trabalhar, vais fazer algo de útil para a sociedade.

O sacaninha ainda teve a coragem de dizer que tinha a decisão tomada e teve a lata para me dar conselhos, "tens de deixar de ver os contemporâneos", disse ele.

Por hoje não me apetece escrever mais, neste blog vão ficar a conhecer a minha aldeia e as belas gentes que a habitam.