terça-feira, 1 de junho de 2010

CRP: Zé, o traficante de carneiros, parte 3

Zé não desgostava da França. Estava com receio de ter problemas na comunicação, visto não saber um palavra de Francês, e o seu Inglês resumia-se aos anúncios do Zézé Camarinha ao WallStreet Institute. Rapidamente descobriu, no entanto, que tais conhecimentos não eram precisos, visto que Armindo apenas contactava com outros emigrantes e fazia as suas compras na mercearia do Asdrúbal.
Armindo notou que algo não estava bem com Zé, chegando-se ao pé dele na varanda do apartamento disse:
-Foda-se que trombas, até parece que toda a gente te deve!
-A minha Maria acordou do desmaio, agora anda-me a chatear a cabeça ainda mais frequentemente.
-Põe-na inconsciente outra vez.
-Já o fiz, mas mesmo assim sinto falta de Roberdões da Pichota.

Armindo olhou para baixo, observava a rua, alguns tugas falavam alto num discurso que mais de metade das palavras eram "foda-se", "merda", "caralho", ou o clássico roberdiano pichoteiro "que mil caralhos me fodam", tal asneiredo não chocou nenhum dos dois, era rotina, tanto lá como cá.

-Todos nós, no fundo, queremos voltar a Roberdões da Pichota, estamos apenas impossibilitados para o fazer, como tu, fugir ao Enteado.
Zé rolou os olhos:
-Esse cabrão...

Os dias até eram pacatos, fora do bairro as ruas eram limpas e a enorme mescla cultural impedia o racismo.
Por incrível que pareça, Zé estava-se a habituar à ideia de emigrante, apesar das promessas de luxo de Armindo serem apenas fumo.
O que nenhum dos dois sabia era que um certo Enteado tinha viagem marcada para Paris, e ele não está nada contente.

Continua...